COISAS DE FAMÍLIA.

Pessoas podem estar juntas, ou apenas próximas, mesmo nas famílias.


Pintura em parede, do artista Gilvan, Rio Grande do Norte.

Cresci muito grudado em toda minha família. Pai, mãe e quatro bocas ávidas por encher os ossos de carnes, esticar os corpos rumo às jabuticabas dos galhos mais altos.

Desde pequenos envolvidos no negócio da família. Cada qual fazendo o que a sua pequenez permitia. As responsabilidades foram crescendo com os primeiros pelos na palidez da pele adolescente.

Minha avaliação era a de que crescíamos felizes por estarmos todos juntos.

Depois, já à parte desse núcleo familiar, amadureci que nem era isso mesmo. Afinal estivemos sempre próximos, amalgamados pelos trabalhos comuns. Só isso. Nunca estivemos realmente juntos.

Nunca houve assunto de alguém. A conversa sempre foi o trabalho, as demandas da empresa, dos clientes, dos funcionários.

Pensava que comíamos da empresa. Contudo, antes era a empresa que se alimentava de cada um de nós.

Nunca nos abraçávamos, nosso carinho era comercial, distante como um aperto de mãos. Não houve colo, cafuné, carinhos. Havia tarefas a cada dia.

Assim fomos afilando nossos caminhos, nossas vidas. Construímos as relações familiares.

Essa constatação poderia, ou deveria, entristecer. Mas não, afinal fomos uma família feliz. Somos felizes e vamos tocando a vida.

Esse instante tem só a função de substituir umas sessões de terapia. E ponto final. Aqui cabe bem um ponto final.


Áudio: trabalhos técnicos de Ricardo Lima – UEL FM.

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