ÁLBUM DE CASAMENTO.

Na hora de casar deviam perguntar se você promete conversar com aquela pessoa até o fim da sua vida.

Quem diria que um dia lindo, ensolarado, com um céu azul profundo desses, ia virar num vento forte e chuva torrencial? Quando o dia está lindo, parece que passamos a acreditar que nunca mais vem tempestade. É bem isso, depois da bonança vem a tempestade.

O prejuízo maior foi o porta retrato, meio oculto na estante, que despencou e estilhaçou-se. A chefa entristeceu, logo a foto do dia mais lindo da sua vida. Ela toda de branco, véu e grinalda. Tudo certinho e esse pé de vento desastrado, põe abaixo. Fui lá juntar os cacos. Será que dá pra juntar cacos de casamento? Questionei entre as orelhas. Lá estava eu na foto, meio como um apêndice. No final, noivo é um negócio que só atrapalha, mas precisa ter, então,  paciência né.

Passou pela cabeça o tal dia, o altar florido. Aquelas flores todas me lembravam velório,  mas o negócio é sorriso na cara e  passo firme. Duro foi na hora do prometer amar e respeitar por toda a vida…. na hora pensei, como vou prometer uma coisa dessas? Como posso garantir assim, no pé do altar que um sentimento que tenho hoje vai se manter por toda a eternidade, ou mesmo até que a morte os separe? Não tenho controle sobre isso, foi o que consegui concluir.

Olhei pro lado, vi o pai dela, olhos molhados, fungando no lenço de seda branco. E é ele que chora, disparei no pensamento, enquanto a boca pronunciava o sim fatídico.  Passei o resto da cerimônia pensando que se não posso prometer um sentimento sobre o qual não tenho controle, que raios de coisas poderia jurar? Bom, o respeitar sim. Isso posso garantir. O carinho, a educação no trato, o cuidado miúdo de cada dia. Mas amar… vai saber!

Bom, meia hora depois a coisa filosófica toda foi substituída pelo enfado das fotos com as mil e duzentas tias e o diabo que brotava de não sei onde. No fim pensei que o convívio diário não podia ser pior que a sessão de fotos, até que chamei o fotógrafo e com cara grave avisei que “acabou pra mim”. Não o casamento, as fotos. Aí veio ela sorridente e disse “mais uma amor”, essa que eu resgato agora do assoalho empoeirado pelo vento e pelos cacos.

No fim das contas é isso, o amor gastou, mas ficou ainda tudo o mais. Acho que na hora de casar deviam perguntar se você promete conversar com aquela pessoa até o fim da sua vida. Se você estiver convencido de que isso é possível, então a sua escolha está bem certa e você está seguro. E então deixe o choro pro sogrão, enquanto ele contabiliza o custo da festa.

Áudio: trabalhos técnicos de Elias Vergennes – FM UEL.

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