Por vezes a bandidagem aproveita-se da ausência do Estado; ou junta-se a ele contra o cidadão.
Hoje conto uma história que começa com ERA UMA VEZ.
O empresário está cansado de ter a sua empresa assaltada. Ele vai contratar um segurança, mas descobre que vigilante armado fica muito caro. Adicional noturno, periculosidade, burocracias; ficou inviável.
Daí surge uma solução: contratar um policial, claro, fora do horário de trabalho dele. Afinal um policial é um agente público e, portanto, é sempre um policial. Está autorizado a andar armado, tem a arma. Tá, não pode ser regularizada sua contratação, mas isso ameniza os gastos.
Tem outros aspectos ligados ao servidor, que não poderia ter esta ocupação. Mas o Estado paga mal e empurra o profissional para o jeitinho, a fim de complementar a renda. Fica bom para todo mundo e fazemos grossas vistas. Nem vamos entrar nisso.
Pronto, a segurança está resolvida. Malandro nenhum vai se meter a besta por ali.
Porém chega um dia em que o empresário pode pedir algo a mais desta pessoa armada. Por exemplo, levar o malote do dinheiro até o banco, ou buscar dinheiro para pagar funcionários. Tudo certo, ida e volta segura. Resolvido.
Aí evolui para outros serviços, tipo convencer uns devedores que insistem em não sair do devo, não nego, pago quando puder. Fica tudo certo também, que ninguém vai dar uma de louco pra cima do policial, o tal cobrador nas horas vagas.
Mas pode ser que a coisa evolua ainda um pouco. Pode ser necessária uma ação mais drástica, por um motivo qualquer. Por exemplo, eliminar um desafeto. E uma coisa leva a outra.
Até que chega um dia em que estes prestadores de serviço entendem que podem se organizar numa equipe e passar a oferecer segurança ao bairro, ao conjunto de comerciantes e outras pessoas. E se não houver nenhum risco que exija proteção, afinal, estas pessoas precisam ser protegidas da própria equipe. Assim todos aderem ao sistema, pagam um valorzinho semanal e seguem as regras impostas pelo grupo.
Pronto, nasceu a criança, que se chama milícia.
Tem uma cidade maravilhosa do Brasil, onde estas milícias substituíram os banqueiros do jogo do bicho, substituíram o Estado, substituíram os traficantes e estão substituindo a classe política. É só acessar as notícias diárias que você vai ver isso.
Agora só falta facilitar o porte de armas no País todo para permitir as franquias. Falta… ou faltava?
Eu torço para que não chegue o dia em que vamos lembrar com saudades dos tempos de PCC, de comando do Norte, dessas bandidagens coisa pouca. Pois com as milícias implantando seu projeto nacional, vai ser Deus acima de todos, o Brasil acima de tudo e todos sob ordens das milícias. Escreve aí.