O futuro é uma expectativa diferente para cada geração. Esperança, medo, o que for, mas sempre uma expectativa.
UM NOVO FUTURO.
Precisei fazer uma viagem de quatro horas. Tudo bem, gosto de dirigir por aí. No banco do passageiro o Luís, garoto de 21 anos, terminando engenharia e aproveitando uma carona para ir ver os pais. Ele estava ali, ao lado, extravasando futuro pelos poros. Entendi que para ele o assunto da universidade já está superado e o trabalho garantido, pois a família tem negócios fortes na área.
Foi inevitável, nuns quilômetros de silêncio, lembrei-me desta fase da minha vida. De todos os sonhos que eu planejava relizar, das estratégias que fui traçando para chegar lá. Aonde? No futuro, ganhar a vida, obter reconhecimento social, criar os filhos que imaginava que teria, dar um futuro ainda melhor a eles. Estas coisas da minha geração.
Ah, o futuro!
Isso era o futuro, uma certa continuidade. Aí tinha uns acessórios, como comprar um carro, essas coisinhas da vida, que nos dão pequenas alegrias e nos posicionam socialmente.
Aproveito o longo trecho de reta, sem muito movimento na tarde de sábado e pergunto o que espera do futuro. “Futuro? “, assustou, enquanto olhava fixamente para mim. Oras, que pergunta mais simples do que essa poderia haver? Certamente um jovem nessas condições há de pensar no futuro, planejar algo. Mas ele se mantém quieto, olhar perdido na faixa amarela do asfalto. Curva pra cá, curva pra lá, um tempo depois, quebra o silêncio e diz que do futuro mesmo o que tem é medo. Dou um tempinho pro recolhimento dele e depois resolvo dar uma apertadinha. Menino inteligente, o Luís não me deixa sem resposta. Abre a mala. Resumindo, ele nem vê o futuro como um tempo para realizar sonhos. Para ele é um tempo de perigo, de incerteza, de possível destruição.
Vou provocando e ele solta o pensamento. Não quer ter carro, diz que não precisa, se precisar faz isso de hoje, pede uma carona, empresta, dá um jeito. Não tem casamento no horizonte dele. Se der certo vai morar com alguém. Filhos? Admira-se da pergunta, não vai rolar. Bom, então vai se concentrar em quê? Na carreira. Mas não está preocupado com a aprovação da família e da sociedade. É só um projeto dele para consigo próprio.
Voltaram as retas e o silêncio junto. Os dois mastigando a conversa recente, digerindo os pensamentos. Saquei que aquilo que para mim era esperança e continuidade, para o Luís é descuntinuidade e incerteza, com possibilidade de aniquilamento, ao invés da realização que a minha geração via. A energia dele vai estar voltada para a carreira. Ele nunca usou o termo relização profissional. Só mesmo carreira. Entendi que o trabalho, que deveria ser um meio de conseguirmos algumas realizações, para ele é um fim.
Ufa! Já estamos chegando no trevo que dá acesso ao nosso destino. Estou pensando que esse modelo de vida vá ser muito vazio. Colocar todas as fichas na carreira. Ainda bem que chegamos, pois eu não quero concluir essa linha de pensamento. Melhor descer e dar um abraço no Luís e tchau!
Áudio: trabalhos técnicos de Élson Ferreira da Silva – UEL FM.