DOENÇA DE SOMBRAS.

O corpo de Lucinha é só sombras. Penumbras. Escuros e silêncios.


                                 DOENÇA DE SOMBRAS

Lucinha vive de médico em médico. Já pesquisaram em todos os recônditos de seu corpo em busca da causa do mal que lhe aflige.

Na falta de diagnóstico, partiu-se para as tentativas terapêuticas. Dá-lhe remédio. Substitui por outro medicamento e outro. As queixas continuam por meses e anos.

Mais exames, mais terapias, mais tentativas. Lucinha continua mal.

As doenças têm o dom de ocultar-se, amoitar-se corpo adentros. A medicina desenvolve meios de espiar esse mesmo corpo.

Para isso usa lentes capazes de tornar visível o que é microscópico. Ou ultrassom que permite transformar os silêncios de cada órgão em úteis informações. Pode até mesmo colorir algumas células, uns tecidos do nosso corpo e nos possibilitar um revelador desenho.

Com Lucinha, nada adianta de nadas. Para Lucinha, sons, imagens, desenho algum fornece informação.

O corpo de Lucinha é só sombras. Penumbras. Escuros e silêncios.

O médico insiste em um novo exame. Ela discorda:

Não é na barriga que tenho uma disfunção. Não é no cérebro que tenho um câncer. Não tenho doença no corpo, doutor. É a alma que me vem enferma, inválida. Essa alma que não se apresenta a exame algum, mas arrasta o corpo consigo.


Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – UEL FM.

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