A pandemia terminou … terminou com muitos.
Perdi um desconhecido.
Um figurão aí insiste em dizer que a pandemia já terminou. Sabe de quem eu estou falando, né? Mas eu não sei não, pois cheguei no dentista e a recepcionista, olho debulhado sobre uma ficha de paciente, informa que a fulana faleceu no domingo.
Ato contínuo, levantou os olhos e passou a me convencer de que a finada era um amor. Desfiou vários elogios.
Aí eu sento na cadeira, abro a boca e os pensamentos vão circulando pelo teto do consultório.
Não posso deixar de pensar que todo mundo perdeu alguém pro COVID. É uma triste herança desta pandemia.
Mas daí me vem a ideia de que além de pessoas que me são queridas, eu perdi mais do que isso. Perdi alguns desconhecidos. Como essa moça, por exemplo. A qual, no julgamento da recepcionista, era uma pessoa interessante de se conhecer. Agora não dá mais.
Já avaliou isso? Você poderia ter conhecido pessoas excelentes, mas a pandemia impediu de ocorrer esta oportunidade. Simplesmente porque a pessoa morreu em decorrência da doença.
Assim, no resumo, perdemos conhecidos e também os ainda desconhecidos. O quanto os conhecidos nos farão falta, até podemos avaliar. Mas como saber quanta falta vai nos fazer alguém que ainda nem conhecemos? E que não vamos mais conhecer, além de tudo.
Olhe, já vou avisando, eu nem sou uma pessoa lá tão legal assim, mas pense nisso: daqui a pouco eu também morro e você nem me conheceu direito.
Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – UEL FM.