A FORÇA DA SUAVIDADE.

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E hás de adormecer nos meus joelhos… E os meus dedos enrugados, velhos, Hão de fazer-se leves e suaves…


A FORÇA DA SUAVIDADE.

Pois o pão nosso de cada dia, nesses obscuros tempos, é amassado na farinha da hostilidade; fermentado pela intolerância a qualquer diferença. Então o forno da agressividade amadurece a massa, que crepita até explodir mundo afora.

Desse modo, precisamos estar atentos a cada momento. Sempre na defensiva, até que não haja outra solução senão partir para o ataque, até como forma de proteção.

Esta é a realidade no micromundo das famílias. Mas também nas empresas, na cidades, nos Países. A mesma situação, em escala maior. A violência que deveria estar na infância da humanidade, se faz presente cotidianamente.

Mas nos declaramos pela Paz. Generais, religiosos, traficantes, professores, todos somos pela Paz. Apesar disso, vivemos pequenos ou grandes conflitos, continuamente.

Amigas e amigos, é necessário fazer frente a estes conflitos. Mas como viver em harmonia num mundo que só quer o confronto?

A solução está numa atitude que fomos abandonando. Ela está a nos rodear o tempo todo. Porém não colocamos reparo nela, não a adotamos como nosso modo de agir.

Eu falo da SUAVIDADE. Algo que se abraça com a doçura, com a leveza, com o sorriso.

Ela já foi utilizada com eficiência no passado. Pois muitas vezes a maior força que existe não está na agressividade, mas na suavidade.

Que o digam Martin Luter King, Gandi ou Madre Tereza. Mas também minha vovó, quando acalmava todos os conflitos da casa com um sorriso e um afago em cada um; sem precisar de uma única palavra.

Ah, a suavidade, “Sua proximidade com a bondade e a beleza a torna perigosa para uma sociedade que nunca é tão ameaçada quanto pela relação de um ser com o absoluto”.1

Posso garantir que uma resposta leve, um gesto delicado demonstra uma potência que a violência não possui. Até um encantamento.

Essa é minha proposta: que não respondamos à agressividade com a violência no nosso dia, mas com a ternura e a moderação que só estão contidas na SUAVIDADE.

Afinal, esse seria um mundo sem conflitos, repleto de Felicidade.


SUAVIDADE

de Florbela Espanca, in “Livro de Sóror Saudade”

Suavidade Poisa a tua cabeça dolorida
Tão cheia de quimeras, de ideal
Sobre o regaço brando e maternal
Da tua doce Irmã compadecida.

Hás de contar-me nessa voz tão q’rida
Tua dor infantil e irreal,
E eu, pra te consolar, direi o mal
Que à minha alma profunda fez a Vida.

E hás de adormecer nos meus joelhos…
E os meus dedos enrugados, velhos,
Hão de fazer-se leves e suaves…

Hão de poisar-se num fervor de crente,
Rosas brancas tombando docemente
Sobre o teu rosto, como penas d’aves…

PARA SE DELICIAR COM A SUAVIDADE:

Potências da suavidade, Anne Dufourmantelle, N-1 edições.


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Áudio: Trabalhos técnicos e paisagem sonora de Ricardo Lima – Rádio UEL.

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