Somos uma comunidade, ou triturados, seremos apenas uma pasta humana.
PASTA HUMANA.
Algumas palavras sempre me incomodaram. Gueto por exemplo. Este termo faz associação a um curral. Mas ao longo da história a humanidade gostou de apartar algumas pessoas.
Claro que esse isolamento é ruim para a sociedade, para a discussão dos temas com riqueza de pontos de vista diferentes. É pobreza de pensamento, em outras palavras.
Atualmente estamos conseguindo formar estes guetos de um modo muito mais eficiente. Num época que denominamos de hiperconectividade, ao invés das pessoas estarem conectadas umas às outras, elas estão mesmo é completamente isoladas.
É verdade que posso falar, instantaneamente, com alguém do outro lado do mundo. Mas não faço isso nem com a pessoa que está sentada ao meu lado. Pelo contrário, fico preso à minha tela. Isolado. No fim é isso mesmo, a época do isolamento total, quando cada um é um gueto.
Então entra em operação o algoritmo.
Passo a receber informações pasteurizadas, das mesmas fontes, com os mesmos pontos de vista. A função não é de informar, mas desestabilizar meu emocional para que eu adquira coisas e idéias, afim de suprir carências que são criadas dentro de mim.
Por outro lado, essa insegurança gera em cada um de nós um desejo de que surja alguém que nos garanta segurança. Nos aliarmos a um grupo online parece ser uma forma de resolver nosso isolamento e aumentar o sentimento de segurança.
Neste ponto entram os que desenham argumentos falsos, que nos levam, por exemplo a duvidar dos resultados eleitorais.
Pronto, dessa salada toda brota nosso desejo por um líder forte e macho. Queremos um rei, um ditador, um todo-poderoso. Estão lançadas as bases para destruir os espaços políticos de discussão e convivência e dar origem aos regimes totalitários que só vêm crescendo, a despeito deste mundo hiperconectado.
Busco entender esse processo, antes que ele nos triture e nos transforme numa pasta humana. Isso se já não o fez.
