COISAS DE FAMÍLIA.

Pessoas podem estar juntas, ou apenas próximas, mesmo nas famílias.


Foto de detalhe de pintura em parede, do artista Gilvan, Assú, RN, jul/20. Acervo do autor.
Foto de detalhe de pintura em parede, do artista Gilvan, Assú, RN, julho/20. Acervo do autor.

Cresci muito grudado em toda minha família. Pai, mãe e quatro bocas ávidas por encher os ossos de carnes, esticar os corpos rumo às jabuticabas dos galhos mais altos.

Desde pequenos envolvidos no negócio da família. Cada qual fazendo o que a sua pequenez permitia. As responsabilidades foram crescendo com os primeiros pelos na palidez da pele adolescente.

Minha avaliação era a de que crescíamos felizes por estarmos todos juntos.

Depois, já à parte desse núcleo familiar, amadureci que nem era isso mesmo. Afinal estivemos sempre próximos, amalgamados pelos trabalhos comuns. Só isso. Nunca estivemos realmente juntos.

Nunca houve assunto de alguém. A conversa sempre foi o trabalho, as demandas da empresa, dos clientes, dos funcionários.

Pensava que comíamos da empresa. Contudo, antes era a empresa que se alimentava de cada um de nós.

Nunca nos abraçávamos, nosso carinho era comercial, distante como um aperto de mãos. Não houve colo, cafuné, carinhos. Havia tarefas a cada dia.

Assim fomos afilando nossos caminhos, nossas vidas. Construímos as relações familiares.

Essa constatação poderia, ou deveria, entristecer. Mas não, afinal fomos uma família feliz. Somos felizes e vamos tocando a vida.

Esse instante tem só a função de substituir umas sessões de terapia. E ponto final. Aqui cabe bem um ponto final.


Áudio: trabalhos técnicos de Ricardo Lima – UEL FM.

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