Pessoas podem estar juntas, ou apenas próximas, mesmo nas famílias.
Cresci muito grudado em toda minha família. Pai, mãe e quatro bocas ávidas por encher os ossos de carnes, esticar os corpos rumo às jabuticabas dos galhos mais altos.
Desde pequenos envolvidos no negócio da família. Cada qual fazendo o que a sua pequenez permitia. As responsabilidades foram crescendo com os primeiros pelos na palidez da pele adolescente.
Minha avaliação era a de que crescíamos felizes por estarmos todos juntos.
Depois, já à parte desse núcleo familiar, amadureci que nem era isso mesmo. Afinal estivemos sempre próximos, amalgamados pelos trabalhos comuns. Só isso. Nunca estivemos realmente juntos.
Nunca houve assunto de alguém. A conversa sempre foi o trabalho, as demandas da empresa, dos clientes, dos funcionários.
Pensava que comíamos da empresa. Contudo, antes era a empresa que se alimentava de cada um de nós.
Nunca nos abraçávamos, nosso carinho era comercial, distante como um aperto de mãos. Não houve colo, cafuné, carinhos. Havia tarefas a cada dia.
Assim fomos afilando nossos caminhos, nossas vidas. Construímos as relações familiares.
Essa constatação poderia, ou deveria, entristecer. Mas não, afinal fomos uma família feliz. Somos felizes e vamos tocando a vida.
Esse instante tem só a função de substituir umas sessões de terapia. E ponto final. Aqui cabe bem um ponto final.