TUPINAMBÁS NA EUROPA.

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Os franceses teriam antecipado a Revolução Francesa, caso tirassem os olhos das pernas dos tupinambás e os ouvissem.

TUPINAMBÁS NA EUROPA.

Hora de ajudar as filhas a estudar para a prova. Enquanto elas anotam algo sobre os antigos egípcios, eu vou folheando o livro de História.

O questionamento que me vem é o do sentido que pode ter em estudar esses povos distantes e ignorar toda a riqueza das civilizações que foram quase ou totalmente eliminadas do nosso território brasileiro. Os nossos povos originários, como se diz no atual. Os indígenas, os índios, como se dizia antes. Mas como os professores vão falar da cosmologia dos Ianomâmis, se a desconhecem totalmente?

Assim que faz todo sentido termos jovens indígenas nos cursos universitários. Com sorte, mais interessados na cultura ancestral do que na egípcia. Tenho a esperança de que eles não somente bebam dos ultrapassados conhecimentos da academia, mas que tragam contribuições ao mundo não indígena.

Eu bem sei que alguns vão argumentar precipitadamente, que eles não têm o que contribuir. São selvagens!

Mas isto já foi superado, ainda nos anos mil quinhentos, por um intelectual francês. Ele nos conta da visita de alguns tupinambás a um dos reis Carlos e à França.

Conheceram o rei, passearam pela cidade e foram provocados a dizer o que acharam. Segundo Montaigne, eles disseram três coisas, que vou resumir para seus ouvidos:

Primeiro, não entender porquê as pessoas obedeçam ao rei. Afinal, um menino de 12 anos não parecia ser lá muito inteligente e nem mesmo era o mais forte. Isso ficara bem evidente pelo tamanho dos monstruosos guardas suíços que protegiam o mirrado reizinho.

Será que esse primitivo brasileiro que só falava o Tupi, teria lido a República de Platão? Não, seguramente era seu próprio modo de conceber a autoridade.

A segunda fala do tupinambá foi o seu espanto e incompreensão pelo fato de que os famintos não avancem sobre os obesos moradores dos palácios, em cujas portas eles disputam umas migalhas com os cães. Tampouco poderiam ter lido Trotsky, pois esse só iria nascer séculos depois.

Mas os franceses da época não ouviram nada disso. A única coisa que os franceses perceberam foi que os visitantes não usavam calças.

Contudo, os franceses teriam antecipado a sua revolução em mais de duzentos anos, caso tirassem os olhos das pernas dos tupinambás e os ouvissem.

Ah, sim. A terceira fala dos tupinambás, você pode ver se descobre, lendo Os Ensaios de Montaigne.

Mas o que importa é que mesmo quase 500 anos após essa cena toda, espero que por fim ouçamos nossos povos ancestrais que agora falam pelos livros, pelas artes plásticas, pelas instalações artísticas, nas universidades, pelas mídias.

Os povos da floresta precisaram se comunicar nos nossos formatos para que, quem sabe, sejamos espertos para aprender com eles como construir um mundo possível.


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