EU, ENCICLOPÉDIA.

A tecnologia transforma o humano em objeto de leitura.


A estante da casa de titia ainda ostenta, orgulhosa, todos os volumes da enciclopédia Barsa e da Mirador. Para quem nunca ouviu falar disso, era tipo o Google em forma de livro. Qualquer coisa que eu desejava saber, era só procurar, em ordem alfabética, o verbete respectivo. Tomei um daqueles livros nas mãos. O livro tem cheiro, ao contrário da versão tecnológica. Podiam colocar cheiros no smartphone, faz falta. Passei uns momentos inventariando as dezenas de aplicativos que baixei nos últimos tempos, inclusive dicionários online. Mas também um aplicativo que registra por onde caminhei, corri, pedalei e mostra o nível de esforço, a distância percorrida, o tempo gasto, a velocidade média. Outro aplicativo onde anoto os gastos e até elaboro um orçamento mensal. Ainda outro que facilita uma lista de supermercado e sugere compras baseado no tempo decorrido da última aquisição daquele item e o prazo médio de compras anteriores. Aplicativo para controle do consumo de combustível do carro. Resumindo, o meu celular sabe mais de mim do que eu próprio. Todo mundo pode saber mais de mim do que eu próprio, pois estas informações, estão à disposição de muita gente. Pessoas interessadas nos meus hábitos de consumo, por exemplo. Assim é que ao abrir o navegador da internet, imediatamente surgem sugestões de coisas que eu devo estar interessado em adquirir, embora eu nem saiba, ainda. O fato é que minha privacidade já foi para as cucuias. E sabe o que eu acho? Que talvez eu esteja, por puro comodismo, disposto a trocar minha privacidade pela comodidade de não precisar pensar nas minhas compras de supermercado, não precisar pesquisar autores e livros, não carecer de imaginar lugares para passar minhas férias. Algum algoritimo está fazendo isso por mim. E ainda por cima, dá a impressão de que tudo isso é absolutamente gratuito. Por outro lado, senti que eu é que me tornei uma espécie de enciclopédia, onde os algoritimos lêm muitas coisas. Nem precisam me abrir, é só acessar o histórico do meu esmartefone. É isso, tô na rede. Que rede?

Áudio: trabalhos técnicos de Elias Vergennes – FM UEL.

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