Quando a tragédia está se aproximando, podemos negá-la, minimizá-la, mas é sempre prudente estarmos prontos para ela.
A maior tranquilidade era a vida dos macacos naquela floresta. Viviam em bandos, espalhados pela floresta. Um dia chega a notícia de que um leão faminto está devorando os macacos das matas que existem ali perto. O bando de macacos nem se incomoda. O leão está lá longe. E depois, os relatos dos passarinhos, além de serem só piu-puis, dão conta de que esse leão prefere comer os macacos mais velhos, mais lentos. Depois come os macacos muito gordos, os mancos, ou seja, a macacada que já merece uma punição por estar ali incomodando. E a vida segue. Até que um dia o leão chega. Come os velhos, come os gordos e os mancos que não conseguem correr. Mas antes de tudo comeu os preguiçosos, que demoraram muito pra se mexer. E no final comeu os outros. A macacada toda.
A notícia chega noutro grupo, mais mata adentro. Uns deles pensaram num plano para conter o leão. Mas a macacada gritando pelos galhos, dava risada. Afinal, já disseram que esse leão gosta de comer preguiçosos. Cada um dizia uma coisa e ninguém fez nada. E o leão chegou. Um dos macacos, que sabia gritar mais forte, resolveu que todos subissem nos galhos mais altos. E lá ficaram. O leão sentou e esperou, silencioso. Aí uns diziam que o leão já tinha ido embora, outros, que o leão nem existia, que foi barulho do vento nos bambus, aquele rugido que ouviram. Alguns desceram, outros dormiram nos galhos e caíram. Mas o leão comeu todos.
Nesse momento, noutro bando, mais no meio da floresta, já se discutia a praga do leão. Cada um dizia uma coisa. Que nunca chegaria no centro da floresta; que era boato, só um boatinho; que todos iriam ser devorados, diziam os mais catastróficos. Mas uma noite o chefe do bando de macacos convocou todos. Sentaram-se na clareira e conversaram. Por fim decidiram que iriam se preparar. O leão chegando, estariam prontos. Caso não aparecesse, seria uma oportunidade de ensinar os mais jovens a trabalharem em equipe, a se importarem com os macacos mais vulneráveis. Todas as sugestões foram ouvidas. Por fim, cavaram um buraco fundo, revezando-se na tarefa. Cobriram com folhas e estava pronta a armadilha. Ainda hoje você pode ir lá no centro da floresta e ver os ossos do leão dentro do buraco. Também vai encontrar um bando de macacos felizes pulando pelos galhos.
Áudio: trabalhos técnicos de Elias Vergenes, UEL FM.