CONVERSA DE CALADOS
Falantes, isso que somos!
Falamos quando dizemos/ouvimos.
Quando calamos nossas mãos, uma na outra, gritamos.
Quando mergulhamos ruidosos na do Chá.
Ao escrevermos/lermos, falantes que somos.
Conversamos conosco mesmo ao nos fitar
no espelho da pupila, um do outro.
Só conversamos… ouvindo aquele blues, quietos.
Calados, colados, miramos as estrelas, falando.
Longe que estamos, sussurramos ao ouvido, hipnotizados.
Em meio a todos,
somos só os dois falando pra ninguém ouvir,
só pra nós, invisíveis.
Numa troca de olhares, em fração de segundo,
falamos mil minutos, contínuos, calados, falantes.
O grilo, noturno telefone sem fio,
traduz tudo o que você chilreou para ele.
Falando contamos muito, calados dizemos mais.
Ao falar, calamos.
Ao calar, falamos.
Lábios colados movemos palavras entre as línguas.
Não beijamos, falamos ao pé da lingua.
Penetrando nossa fala outro adentro.
Gritamos, sufocamos, falamos.
Quietos, calados, contamos, silêncio,
beijo, só um BEIJO.