Por quanto tempo uma mãe pode amar um filho? A vida toda, ou mais que isso?
Porta de escola é de uma produção filosófica sem tamanho. Segunda-feira, bem início da semana e já ouvi a mãe reclamando que filho não tem idade, que filho é preocupação para a vida toda. E eu que estava ali aguardando a hora de enfiar as filhas no carro e correr para o almoço, ancorei nos meus neurônios essa perola da sabedoria de portão da escola.
Depois do almoço, tranquilo no sofá, lembrei de duas passagens interessantes envolvendo mães de filhos que já não estavam aqui para contar histórias. A primeira, o caso de um rapaz que se atira da ponte em ação de suicídio, morrendo afogado. A sua mãe, muito religiosa, passa a viver atormentada com a certeza de que suicida não vai para o céu. Além do sofrimento da perda, a mãe precisa lidar com a certeza da condenação eterna do seu filho amado.
No segundo caso a doença ceifa muito precocemente a vida do rapaz. A mãe, igualmente muito religiosa, não consegue compreender a morte do filho, que era tido pela família como um homem religioso, correto, justo e exemplo para todos. Se Deus, no Antigo Testamento, diz a Abraão que o justo viverá muitos anos, como pode o pobre ter sido levado tão cedo? Que pecados ocultos esse infeliz possuía? A mãe se atira aos pés de vários pastores com a pergunta e não obtêm uma resposta satisfatória e vai se consumindo na dúvida de quão justo era seu filho na verdade e na insegurança dele estar em um bom lugar.
Mas ambas as mães encontram um final feliz para suas aflições. A primeira vai conversar com um bispo que lhe pergunta se a ponte é alta. Com a resposta afirmativa ele argumenta que provavelmente entre a ponte e a superfície da água, naqueles poucos instantes o filho se arrependeu de tão impensado ato e foi acolhido na misericórdia divina.
A segunda mãe encontra um pastor que lhe explica que muito da Bíblia é linguagem figurada. Que quando Deus promete a Abrão uma vida longa ao justo, pode ser que não se referisse ao tempo, aos anos de vida, mas antes à qualidade de vida de uma pessoa correta. Sendo querido na família e estimado na sociedade, mesmo que viver poucos anos teve uma vida abundante e feliz, uma vida longa.
Além do alívio dessas mães, temos uma outra conclusão, a de que amor de mãe nem é só pra vida toda. A preocupação continua mesmo depois do fim desta vida, quando uma mãe infeliz precisa sepultar seu amado filho. Ou seja, filhos são para sempre, ad eternum. Ainda bem que lembrei disso tudo, pois amanhã, finalmente terei assunto pra porta da escola.