“não é tão culpado o ladrão que rouba, mas o imbecil que se deixa roubar”.
“... não é tão culpado o ladrão que rouba, mas o imbecil que se deixa roubar”. Há mais de cinquenta anos, o escritor italiano deixou essa reflexão num conto. Já li este texto dezenas de vezes ao longo do tempo. Hoje li com um fígado mais crítico, pensando nas nossas administrações públicas. Dia vai, dia vem e a luz da retidão não dissipa as sombras da corrupção.
Com a operação Lava Jato, até chegamos a acreditar no fim das trevas, ingênuos mortais, contudo, a realidade continua tal e qual.
Aplicando essa inquietante reflexão do escritor, de que a culpa seja do imbecil que se deixa roubar, decorrem alguns pensamentos.
O primeiro é a de que enquanto simples populares, não é bem verdade que nos deixemos roubar. Instituímos estruturas para fiscalizar estes desvios e pagamos por isso. Começa com o Legislativo local, que têm, entre as suas atribuições, a fiscalização do Executivo. Já estou até vendo você fazer careta e dizer que as duas instâncias se abraçam e fazem juntas as falcatruas, mancomunadas. Mas aí vêm estruturas de nível estadual, como o Tribunal de Contas. É, bem verdade, praticamente uma instância política, já não vai funcionar, também. Outros interesses. Ah, ainda temos o Ministério Público e suas competências de investigação e apresentação de denúncia ao Judiciário. Mas quem confia no trabalho pouco do nosso judiciário? Pois é. Nos roubam o tempo que pagamos para que trabalhem e ... Já não estamos aí mesmo, nestas estruturas todas, sendo roubados? Milhares de pessoas em cada estado da federação que recebem para um trabalho que não executam a contento. E colocamos a culpa nos ladrões?
Estou pronto a fazer um mea culpa, mea máxima culpa. Minha, um dos tantos imbecis, que com uma boa parte dos nossos rendimentos, pagamos, via impostos, uma corja para nos roubar e outra para fazer de conta que estão fiscalizando.
Veja que precisamos ter água potável nas nossas torneiras. Assim sendo, temos uma estrutura, uma empresa de saneamento que entrega esta água, faz os controles, e pronto. Já no caso da corrupção, inventaram todas estas estruturas que citei e outras mais, como as forças policiais, para fazer a mesma coisa. Ou não fazer. Afinal quando todos são responsáveis, ninguém é responsabilizado.
Nesta lógica, em que colocamos as raposas para cuidar das galinhas, sou tentado a dar razão ao senhor Pirandello, “... não é tão culpado o ladrão que rouba, mas o imbecil que se deixa roubar”.