A DOENÇAZINHA.

Contra corpos, não há argumentos.


A DOENÇAZINHA.

Em um certo país, desembarcou uma enfermidade. Todos chamavam de doença nova. Os cientistas ficaram alvoroçados. Queriam encontrar a cura. Mas o governo do lugar pensou – é, governo às vezes pensa – essa doença está matando os idosos. Isso nem é tão ruim. Menos aposentadorias, menos gastos com a saúde destas pessoas que já não pagam impostos, não consomem, só ocupam espaço. Também mata os que tem a imunidade comprometida. Mas eles vivem doentes. Deixa pra lá.

Então esses interessados na população, começam a difundir informações malucas. Primeiro dizem que nem é doença. É invenção de uns apavorados que querem ficar famosos. Uma gripezinha, quase como uma unha encravada, nada mais. Colocam uns doutores que ninguém sabe de onde são, para apregoar remédios. Umas aspirinas milagrosas, vermífugos que curam até mal olhado.

As pessoas vão morrendo. Aí vem a pergunta, você conhece alguém que morreu disso? Então nem está acontecendo. É coisa lá dos cafundós. Dão um jeito de desacreditar a doença. Desacreditar os cientistas, esses loucos, oportunistas.

Os profissionais continuam seu trabalho. Descobrem uma vacina. Nada disso: é um perigo, tem um chip embutido nela. Assim vão saber onde você está, o que está fazendo. Causa câncer, gonorreia. Só toma quem quiser. Para as crianças então, uma calamidade. Quer virar bicho, jacaré?

É evitar falação contrária. Fecham as escolas, as universidades. Deixam os botecos e academias abertas. Cachaça e endorfina para sedar os pensamentos. Ah, e tudo, sempre dito em nome de deus, e manter igrejas abertas. Com isso aliciam os religiosos, que por não saberem mesmo o que estão a fazer com o microfone nas mãos, passam a condenar as vacinas; coisa do inimigo, pecado. Deus protege o povo eleito. Quem receber vacina, está negando a divina providência.

Porém, há uma verdade que não cala: Os corpos a empoçar em UTIs, a empilhar-se nos cemitérios, nas câmaras frigoríficas. Contra corpos não há argumento. O vírus é invisível, será que existe? A vítima fatal, não há como negar. Pode-se fechar os olhos, os ouvidos. Não se pode é fechar as narinas. O fedor inunda qualquer negação.

Já que não ouvem a ciência, a doença, que respirem esse miasma das mortes aos milhares, às centenas de milhares. Para nossa dor.


Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – UEL FM.

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