E se os governantes encarassem o cabo da pá? Mesmo que só por um dia.
Seu Aluísio, já desprovido de esperança depois de sete, quase oito décadas de vida e tendo que assumir uma rotina asfixiante com a pandemia do Covid-19, pergunta o que eu faria para acabar com esta praga. Foi este o termo que ele usou.
Eu o acalmei, coloquei as esperanças na vacina, que afinal ele já recebeu em duas doses. A conversa ficou por aí, mas eu não consegui um ponto final.
Horas depois lembrei de uma prática que inventaram há uns tempos, de que a diretoria de uma empresa passe um dia do ano executando funções de subalternos, tipo lá na produção mesmo, enfiado no macacão. Pensei que talvez seja a chave para o fim da pandemia. Eu explico:
Que tal se os governantes, por um ou dois dias fossem escalados para trabalhar no lugar dos coveiros? Dos sepultadores, que é a mesma coisa com nome mais bonito.
Os mandantes deste País, do Estado, da Cidade, encarando a morte de frente, sentindo seu bafo ainda quente. As mortes, as centenas de milhares de mortes, deixariam de ser estatística. Passariam a ser pessoas partindo. Amigos morrendo. Parentes indo.
Creio mesmo que depois de dois dias no cabo da pá, muita gente iria se coçar. Aí aparecia vacina, surgia a solução que fosse necessária.
Mas fica um defeito nesse raciocínio. Nem só governantes deveriam encarar esse ofício por um ou dois dias. Tem muito cidadão que também precisa disso. Pessoas que recusam a utilizar máscaras, que insistem em promover aglomerações, festas, confraternizações. Aqueles que continuam negando o problema.
Fosse eu um gênio da lâmpada, um deus, um demônio qualquer, colocava esse povo todo na função e concedia descanso aos coveiros, valorosos profissionais que já estão extenuados com tantas mortes.
Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – UEL FM.