O PECADO DE NATAL.

Final de ano, natal! Apesar das distrações que fomos criando, ainda é tempo de pensar nossas vidas, avaliar nossas ações.


A humanidade sempre se viu oprimida pela sombra do pecado. Há 700 anos um italiano resolveu colocar em pratos limpos isto de céu e inferno e compôs uma obra prima da literatura mundial, a Divina Comédia. Nesta magnífica poesia, Dante cria um buraco a que chama de inferno. Quanto mais importante o pecado, mais fundo neste buraco a alma vai ser instalada. Na arquitetura de inferno que Dante cria, um dos pecados mais xinfrins é a luxúria, nome bonito das faltas ligadas à sexualidade. Os pecados da carne, como ainda se diz. E lá do fundo do buraco, perto do Maligno, o pecado mais grave: a traição. O piorzinho de todos, aqueles que traem os seus benfeitores.

Cerca de 100 anos depois a igreja católica demonstra com fogueira e cheiro de carne de gente sendo assada, que o maior pecado é contra a Igreja mesma. São as heresias, bruxaria. Bom, dá até pra tentar me convencer que isto é pecado contra Deus. Mas vai ser difícil. O pecado contra a Igreja é tão grave que não basta a alma queimar no inferno. O corpo também precisa queimar.

Nos dias atuais, parece que estes pecados estão meio fora de moda. Isto de luxúria, de não cobiçar a mulher do próximo . . . tá uma confusão. Nem se sabe mais o que é e o que não é. E ninguém tem medo nem mesmo da excomunhão.

O que está na moda neste século XXI, parece ser o pecado social. Parece mais grave que alguém deixe outro passando necessidades do que uma noitada na farra.

Neste contexto, agora que já quase dá pra ouvir o sininho do papai-noel descendo pela chaminé, torna-se o momento ideal pra que todos dêem uma aliviada na consciência fazendo algo de caridoso, de solidário. A solidariedade vira a oração e a penitência moderna.

Mas aí eu é que fico perguntando. Será que no fim a gente não exerce a tal da solidariedade de uma forma meio hipócrita. Dá presente, cesta básica, pega uma cartinha de criança carente nos correios, um jantar, pros parentes, no máximo pros funcionários da empresa. Um garrafão de vinho pro rapaz da coleta do lixo. Assim, durante o ano ele não emporcalha a calçada.

E aquelas pessoas que precisam mesmo. Que a gente nem sabe onde estão? Ficam precisando. Ou no máximo vão ter uma cesta básica pra não passar a noite de natal com fome. Pra eles faria sentido que o natal fosse todos os dias.

É nesta falta solidariedade, este pecado mor, que gostaria que nós pensássemos neste pouquinho que falta pro natal.


SUGESTÃO DE LEITURA

A DIVINA COMÉDIA foi escrita por Dante Aliguieri e publicada no século XIV. São três livros, Inferno, Purgatório e Paraíso, totalizando 100 poemas. A obra faz uma arquitetura destes destinos humanos, organizando os pecados e suas punições e as recompensas além morte.

O que achou do conteúdo?
Envie uma mensagem pelo formulário abaixo: