O DONO DO CORPO.

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Ah, se meu corpo fosse meu. Então eu teria controle sobre cada pedacinho dele. Mas não tenho poder nenhum.


O DONO DO CORPO.

O médico me envia para um exame. Quer saber como estão os órgãos internos. Fico deitado na máquina e me dou conta de que o aparelho está analisando algo que não me pertence. Os interiores desse corpo.

Antes eu pensava que seriam meus intestinos, meus rins, meus pulmões, meu coração. Mas que sentido faz utilizar esses pronomes possessivos se os abençoados não atendem às minhas vontades, à minha ordem.

Talvez o inverso é que seja verdadeiro. Eu é que obedeço a eles. O estômago reclama e corro comer algo. A bexiga dá sinal de vida e eu me apresso.

É o caso de perguntar se não seria justo dizer esse baço que está comigo ao invés de chamá-lo de meu. Abrir mão dessa suposta posse do que não me pertence.

Mas a verdade é que os resultados dos exames, embora mostrem que está tudo bem, já identificam uns precalços aqui ou ali. Estes órgãos já não estão como antes. Estão me traindo?

Fico numa dúvida: esses órgãos estão num caminho rumo a quê? Eles estão ficando cada vez mais afinados e rumando a uma plenitude que virá com a parada total no seu funcionamento, ou isso não tem nada de plenitude, somente a extinção destes tecidos, hoje vivos?

É disso que depende o futuro desse corpo, da resposta a essa pergunta. Estamos caminhando, eu e o corpo, para uma plenitude ou pra um aniquilamento?

Entendeu que eu não tenho o mínimo controle nesse destino? Esse corpo que me carrega é quem vai decidindo tudo.


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Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – Rádio UEL.

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