Pode ser que algo como um simples beijinho sobreviva ao esquecimento , muito mais que um momento que parecia ser mais intenso.
Dia desses eu estava cruzando a praça e vi uma jovem mãe sentada num banco com o seu bebê ao colo, aproveitando a sombra do ipê, que já começava a chorar suas pétalas brancas no gramado ao redor da árvore. Exatamente quando eu passava, esta mãe dizia ao bebê: “Como eu te amo. Poderia comer você”. E tacou-lhe um beijo apertado na bochecha rosada.
Ah um beijo! Faz muitas coisas um beijo. É bem verdade que também pode ser de traição. Mas, afinal, acho que só houve um beijo de traição na história toda. Para mim o beijo faz parte do tato. É pelo tato que o amor se abre. É como se estivéssemos engolindo alguém, envolvendo-o todo.
Impressionado com a cena da mamãe e seu bebê, continuei andando, ao sol agradável da manhã, buscando lembrar qual foi o beijo mais intenso que recebi até hoje. Ah, você vai pensar que foi um beijo destes apaixonados, na boca, desses de filme. Foi nada. Nem o maior, nem o segundo maior, não foram assim.
O beijo mais intenso que ganhei era para ser no rosto, mas acabou sendo no meio no pescoço, que na hora a coisa saiu errada. A garota demorou um instante no beijo, mas depois saiu ligeira. Era um beijo que não devia ter ocorrido. Durou só um instante, coisinha de nada. Mas quase meia hora depois, ainda sentia o pescoço, ainda queimava o lugarzinho da boca dela. E a alma leve… bom, vai imaginando ai.
O segundo foi quase igual, mas nem no pescoço foi. Foi na mão. Eu já estava despedindo, podia ver uma urgência saindo dos olhos dela, extravasando. Pegou minha mão e beijou, como uma gata arisca. Dias depois ela jurava que não se lembrava desse beijo. Foi tão espontâneo que a memória nem deu conta de registrar.
Nestes tempos de amores intensos e consumíveis, de sexualidade exposta, fico assustado por ser destes dois beijos que lembro de modo tão forte. Mas a assim é a vida. Por vezes os pequenos gestos, as coisas mais singelas, um simples beijo, é onde mais significado existe.
Por falar nisso, um beijo!
Áudio: Trabalhos técnicos de Elias Vergennes – UEL FM.