Preparar os filhos para um mundo que não imaginamos é uma aventura que requer muito pensamento.
Chegou a hora da aula online das filhas, coisas da epidemia. Meu computador está requisitado, em nome da educação, em nome do futuro. Mas isso de cessar as brincadeiras para participar da aula, causa chateação nas garotas. Uma até bate o pezinho e quer saber porque precisa estudar. Pior que fica encarando, sinal de que quer resposta, de que não foi só uma pergunta à toa. Um mísero punhado de anos e já questionando forte. Eu não consigo desovar uma resposta. Posso dizer que é para aprender as coisas e ser alguém na vida, ter uma profissão, fazer igual à mamãe. Mas a honestidade não me permite esta resposta e ficamos um encarando o outro. A professora inicia a aula, me livro da pirralha. Mas não fico livre desta inquietação.
Já andava questionando se esse pretenso conteúdo online não é só para satisfazer a ansiedade dos pais ou para justificar pagarmos a mensalidade. Agora, complicou.
De qualquer forma um processo importante na vidinha delas é o convívio escolar. Serem confrontadas na disputa, na divisão com as outras crianças. Trocarem experiências, vivências e tudo o mais. Acabou o corre do intervalo, as confidências, as historinhas, as pequenas intrigas. Perderam a oportunidade desta experiência. Pode não ser evidente, mas o isolamento social tem um impacto forte na formação desta geração, na socialização. Aí eu pergunto pra você, que é mais inteligente que eu, como vou desempenhar o papel de pai com mais essa complicação? Como vou possibilitar a essas garotas um preparo para a vida adulta?
Observo o que as famílias fazem, ouço o que pensam. No geral, fico com a impressão de que essa geração de pais está repetindo a geração anterior, os avós. Buscam o que entendem por boas escolas. Na dificuldade de avaliar, decidem pela mais cara que couber no orçamento. Uma escola bilingue, uma instituição que ensine robótica, essas coisas. Mas a verdade é que lá em casa sempre duvidamos da suficiência da escola para o preparo das pequenas e procuramos fazer nossa parte. Afinal, aprender a montar robozinhos, laboratório de informática para crianças que já nasceram com um tablet nas mãos, sei lá. Essa geração não vai se adaptar à tecnologia, eles é que vão ditar a tecnologia.
Dessa forma, executamos em casa algumas ações, como a de ouvir boas músicas com elas, estimular a imaginação, ler juntos. Não estou falando somente de livros. Também estamos lendo muitos lugares, pessoas com diferentes formas de viver, de crenças diversas, outros povos. Buscamos promover uma socialização o mais diversificada possível, na expectativa de que essa diversidade transmita valores e gere conhecimentos, assim vão aprender a pensar por si próprias, mas sem esquecer as outras formas de viver e creio que irão fazer boas escolhas e utilizar acertadamente toda a tecnologia e as informações de que irão dispor. Mas até isso está comprometido nesses tempos, com os deslocamentos impossibilitados e as aglomerações perigosas.
É, isso estamos fazendo lá em casa. E também só isso, porque a verdade é que não sabemos o que essa galerinha vai precisar. Nem sabemos e nem conseguimos imaginar.
Áudio: Trabalhos técnicos de Elias Vergenes, UEL FM.