O PESO DO CORPO.

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O viver é uma labuta contínua com o próprio corpo, até nos separamos dele em definitivo.


O PESO DO CORPO.

O recorrente drama do portão da escola. A choradeira dos pais varia, mas no fundo a ladainha é a mesma. Filhos com crise de ansiedade, depressivos, cortes pelo corpo: essas adolescências.

Fico urubuzando os adultos esquecidos de que já usamos calças curtas. Pois no resumo acredito que seja só uma luta do adolescente com o próprio corpo. A serotonina da infância sumiu e levou junto aquela alegria toda. A leveza das crianças. Afinal, com a consciência do próprio corpo, apagou-se o sorriso.

Adolescentes se acham feios, desajeitados. Uns por serem muito altos, ou baixinhos. Uns narigudos, outros sem nariz.

No corpo em crescimento acelerado, o cérebro não entende onde está a ponta dos dedos. Ou seja, surge uma estranheza.

Cada um deseja ser o mais popular da turma e possuir uns 20 melhores amigos para sempre. Cimentando tudo isso, a montanha russa dos hormônios: um caldeirão fervente.

Vou almoçar com esse cardápio de bobagens na cachola. Na sobremesa concluo que passamos a vida lutando com o corpo que nos cabe.

Ainda pequenos, precisamos controlar o esfíncter para não ficarmos molhados. Administrar as pernas gorduchas para conseguir arrancar os primeiros passos. Suportar os dentes explodindo na boca.

Então jovens e precisam lutar com os hormônios e suas consequentes excitações e ereções. É imperativo esconder as espinhas, disfarçar os mil defeitos reais ou imaginários.

Depois que são adultos, vem a briga com a balança, com a preguiça, com um corpo extenuado e dolorido.

Então a idade vai avançando e chegam as disfunções. Por vezes é o circulatório, ou o pâncreas, os rins. Algo vai falhar. Pois agora é ir remendando os furos com os medicamentos de uso contínuo, com os óculos, com o aparelho auditivo.

Olhe, por fim podemos arriscar um conceito:

O viver é uma labuta contínua com o próprio corpo. Até que um dia nos separamos dele em definitivo.

Mas Deus me livre disso! Queremos nos grudar ao amontoado de carnes, pele e ossos pra sempre, mesmo relativizando essa luta toda.

Você entendeu esse tal de humano? Então me explique, porque eu não dou conta de compreender esse bicho.

E, já que não resolvi nada mesmo, estou voltando lá pro portão da escola, pois está na hora de buscar as crianças e ouvir a choradeira dos adultos.


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