Com a cultura e a civilização, as pessoas estão em constante busca de se distanciar da sua origem animal, mas algo resta por resolver nesta tentativa.
Há milhares de anos as pessoas vêm buscando se distanciar dos animais, que segundo Darwin, é de onde nós viemos.
Avançamos bastante. Através da cultura vamos nos diferenciando e nos intitulamos civilizados, ao contrário dos animais que são selvagens. Apesar de todo nosso esforço, por vezes não podemos negar o nosso passado animal. Um dos casos é quando deixamos o diálogo de lado e partimos para a violência. Mas hoje quero falar é de três momentos do nosso dia em que somos iguais aos animais. E não conseguimos dar um jeito nisso. Quando estômago ronca e a fome aperta, não tem outro jeito, imitamos os animais, comemos. Ingerimos pedaços de outros bichos, como fazem os leões ou comemos vegetais, como fazem os coelhos, as vacas e outros herbívoros. Mas disfarçamos isso. Nos sentamos civilizadamente ao redor de uma mesa nas nossas cavernas modernas, utilizamos talheres. Bom, para resumir, acredito que a refeição é o ato humano que mais tem regras a seguir. Mastigar com a boca fechada, cotovelos para dentro, utilizar somente a extremidade do garfo, que afinal é um garfo e não uma pá e por aí vai. Uma porção de regras de etiqueta.
Outro momento é quando os alimentos já evoluíram intestinos a dentro e viraram o tal do bolo fecal. Aí viramos bichos e precisamos colocar tudo para fora. Mas chamamos isso de necessidades fisiológicas. Só as pessoas têm necessidades fisiológicas. No caso dos animais utilizamos termos mais grosseiros mesmo, que nem vou citar, para não ferir os delicados tímpanos humanos. Nesse caso, nos fechamos num recinto e fazemos isso, digamos, escondidos. Mas como temos que estar lá para executar a tarefa, levamos uma revista ou o celular para nos convencer que não somos animais. Temos a leitura, que é cultura pura, ou a tecnologia de um equipamento de comunicação. Ah, e colocamos perfuminhos, arranjos de flores. Mesmo no sanitário, fazendo aquilo, somos melhores que os bichos. Estamos convencidos disso.
Ainda sobra o momento do sexo, ou seja lá como você quer chamar. O momento de fazer amor, a relação sexual, como você quiser. Isso também não deixa de ser uma atividade animal. Mas aí revestimos o ato de segredos. Até é um tabu falar disso. É como se ninguém praticasse o tal ato, afinal, as cegonhas que trazem os filhotinhos humanos no bico e entregam nas casas. Para o sexo, nos trancamos, nos escondemos, para que ninguém veja. Para ficar bonito, chamamos de privacidade, mas eu acho que pode ser medo de sermos confundidos com bichos. Apesar de que tem momentos que o sexo do humanos, com suas taras e sei lá o que mais, fica mais animal que o dos bichos.
A minha pergunta é só uma, se no final das contas, passada a régua, não seríamos mais felizes, mais resolvidos, ao aceitarmos que somos mesmo é um bicho que anda sobre os membros posteriores, ao invés de querermos ser até mais que humanos, querermos ser deuses na terra. Só isso.