Nilson Giraldi

NAS CALÇAS DE RISCA DE GIZ.

Sobre uma parede enfeitada pelos cadáveres das caixas de remédios.

TUPINAMBÁS NA EUROPA.

Os franceses teriam antecipado a Revolução Francesa, caso tirassem os olhos das pernas dos tupinambás e os ouvissem.

QUE EU ME DEIXE MORRER EM PAZ.

Eu só queria morrer em Paz. Minhas questões pendentes: a morte que as carregue.

O PAI, NO FILHO.

O dolorido é saber que ele vai mascar todo o amargo que tivemos que engolir com nosso estúpido modo de ser.

LUGARES DE CAMPOS TRISTES.

Entendo que não deseja minhas moedas. O que quer é um cadinho de mim.

PERSONAGEM DE FICÇÃO.

Pessoas são ambíguas. Possuem qualidades e defeitos. Porém um ser humano não cabe na tela de um computador ou celular.

UM MUNDO EM PANDEMIA.

Viver nos dias atuais é isto: morrer de alguma ou de todas as crises. Junto morre a cultura, a civilização, a arte.

AS SABEDORIAS DO BEM-TE-VI.

Na primavera de fumaça no céu e terra enrugada, o bem-te-vi grita alto: bem-que-te-avisei, bem-que-te-avisei.

COSTUME DE MÃE.

Eu poderia colocar-me a lavar o túmulo. Mas seria como banhar os ossos dos parentes. Falta estômago para isso no meu abdômen.

QUEM SOBREVIVER, VERÁ.

A história mostra que nos momentos de fundo de poço, a engenhosidade humana encontra novas soluções e dá a volta por cima.

FECHADO PARA BALANÇO.

Você sabe como se pode auditar uma vida? Um viver, por vezes até correto, mas no geral eivado de tortos e falhas.

CLAUSURA VOLUNTÁRIA.

Apaixonado pelas pessoas, o vento grita pelas frestas, a nos lembrar que a felicidade está lá fora e não dentro das paredes da fluoxetina.

O ESPELHO OBTUSO.

É o medo de olhar no espelho e ver toda a culpa que sentimos por ter negligenciado a pessoa que amamos, mas que já não está conosco.

A FESTA DOS PORCOS.

A simplicidade possibilitava uma infância interessante e acontecimentos inesquecíveis. A pasteurização de hoje inviabiliza o inusitado.

DISSOLVIDO EM ÁLCOOL.

Antes de engolir o comprimido que lhe ofereço ela jura que me ama e que nunca mais irá beber. Eu acredito piamente nas suas juras . . . de novo.

O PESO DO CORPO.

O viver é uma labuta contínua com o próprio corpo, até nos separamos dele em definitivo.

POR UM PACOTE DE CEBOLAS.

Nasci assim mesmo, enquanto a mãe estava lá, a buscar o sabor pra polenta.

O ASSOVIO É A MÚSICA DO VENTO.

Acho que Deus criou o mundo para ter vento e o assovio ir mais longe.