Nilson Giraldi

CLAUSURA VOLUNTÁRIA.

Apaixonado pelas pessoas, o vento grita pelas frestas, a nos lembrar que a felicidade está lá fora e não dentro das paredes da fluoxetina.

O ESPELHO OBTUSO.

É o medo de olhar no espelho e ver toda a culpa que sentimos por ter negligenciado a pessoa que amamos, mas que já não está conosco.

A FESTA DOS PORCOS.

A simplicidade possibilitava uma infância interessante e acontecimentos inesquecíveis. A pasteurização de hoje inviabiliza o inusitado.

DISSOLVIDO EM ÁLCOOL.

Antes de engolir o comprimido que lhe ofereço ela jura que me ama e que nunca mais irá beber. Eu acredito piamente nas suas juras . . . de novo.

O PESO DO CORPO.

O viver é uma labuta contínua com o próprio corpo, até nos separamos dele em definitivo.

POR UM PACOTE DE CEBOLAS.

Nasci assim mesmo, enquanto a mãe estava lá, a buscar o sabor pra polenta.

O ASSOVIO É A MÚSICA DO VENTO.

Acho que Deus criou o mundo para ter vento e o assovio ir mais longe.

UMA DÚZIA DE DEZ.

Vou comprando quilos de 700 gramas, dúzias de dez, litros de 750 ml. A matemática resolve a minha vergonha da pobreza.

VELHAS VERDADES COSTURADAS À MÃO.

As velhas verdades sempre engolem e suplantam as fake news, mesmo que o inverso pareça ser o que prevalece.

O HOMEM MAIS VELHO DO MUNDO.

Seu Josias não sabe ler papel, mas consegue ler a alma de um vivente.

MEUS NOVOS AMIGOS.

Amigo é aquele que dá trabalho, que exige atenção. Amigo bom é o que só vai passando.

A IMAGINAÇÃO TEM DONO.

A sua imaginação precisa de atenção, ou alguém vai plantar desejos em você.

A SOMBRA DE NINGUÉM.

Todos deixaremos algo de herança. Quero deixar meu silêncio. Vou trocar minha vida pela sombra de um ninguém.

O ENIGMA DA INUTILIDADE.

O enigma é que eu não posso lhe entregar as respostas que você espera; tampouco você quer a pergunta que eu não tenho.