Que tipo de relação valorizamos?
Um Rei era servido por um General, um Cozinheiro e por um Bobo da corte. O responsável pela cozinha alimentava a pança real; o guerreiro saciava a real sede de poder; o palhaço atendia o espírito do Rei e dos nobres. Um reino feliz.
Feliz até certo dia em que um jovenzinho resolve provocar intrigas. Diz ele: Nosso valoroso General passa as noites deitado nas ravinas, coberto pelo manto de estrelas, come batatas cozidas na água e dorme sem saber se estará vivo no dia seguinte. Conseguindo despertar, lutará o dia todo até cair novamente exausto sobre a grama. Por outro lado, tem poder de vida e de morte sobre todos os que cruzam os seus caminhos.
O Cozinheiro real desperta na madrugada a apurar o sustento de Vossa Majestade; cujo apetite mantém-se pelo dia todo. Ao fim do dia, com os braços dormentes o dedicado Cozinheiro despenca num colchão de palhas. Em compensação, experimenta todas as iguarias com sua colher de provas.
O bufão acorda com o despertar real, espreguiçando-se no macio colchão de penas, faz as refeições com o Rei, enquanto inventa chistes para que o alimento real seja ensalivado pelas risadas de Vossa Majestade. Como sabe tudo de antemão, indica serviçais, intercede por membros da nobreza. Isso o torna reverenciado.
O General recebe um pagamento de 100 dracmas e garante a segurança real. O cozinheiro recebe 1.000 dracmas e assegura que os alimentos não estejam envenenados. Dez mil dracmas de pagamento seria o sonho de todos. Mas somente o serelepe Bobo da corte recebe tal paga. Mantém o Rei bem humorado e pode falar coisas ao seu ouvido. Não lembramos o nome de nenhum bobo da corte ou de algum cozinheiro. Lembramos os generais da história.
Esta injustiça não morreu com o último Rei. Continua presente inclusive nas atenções que dispendemos a cada pessoa, a cada amigo, aos familiares.