A FESTA DOS PORCOS.

A simplicidade da vida possibilitava uma infância interessante e acontecimentos inesquecíveis. A pasteurização da vida atual inviabiliza o inusitado e o inesquecível.


A FESTA DOS PORCOS.
Escultura em argila, de Manuel Eudócio – Caruaru, PE.

Eu tinha uns 10 anos quando fui a um casamento no sítio. Daqueles que se estendia uma lona no terreirão de café, umas mesas e bancos de tábuas e tocos e estava pronto o cenário. Aí chegavam os convidados, morrendo de fome, num tempo que refrigerante só se tomava aos domingos. Uma tubaína repartida nos copinhos de plástico. O povo avançava no churrasco espetado no bambu. Uma verdadeira festa.

Tudo correndo normal. A chuva ameaçava voltar, mas dava uma trégua pra noiva desfilar com o vestido branco que vinha sendo segurado pelas duas irmãs menores pra não embarrear-se todo. O povo, cerveja e cachaça na cabeça, já falava alto demais pro gosto das corujas que ficavam sentadas nos  palanques da cerca que separava o gado da churrasqueira. Os porcos presos no mangueirão, às vezes faziam um ronco de reclamação. Talvez tenha sido este grunhir dos porcos que atiçou o espírito de porco de alguns amigos da minha idade. E quando um moleque olha pro outro, é porcaria na certa. No caso foi porcaria, literalmente.

Aberto o chiqueiro, os porcos invadiram a festa. Ao invés de virem empanados na farinha, vieram rolados no barreiro da saída do curral. Eu subi na jabuticabeira e fiquei de camarote assistindo a invasão. Foi só mulher, homem e meninas subindo nos bancos. Que os moleques já estavam todos a postos nas jabuticabeiras e pés de manga.

A festa, de repente ficou mais animada ainda. Era homem agarrando porco e porco correndo de tudo o que se movia. Os cachaços tentando subir nas mesas pra fazer uma boquinha. Resultado, o casal separou-se depois de alguns anos, mas ainda foi a festa de casamento mais divertida e mais emporcalhada que já vi. E nunca mais vai ser possível outro assim, agora que estamos sempre celebrando nos ambientes cafonas e chatos dos chamados buffets. É, os casamentos caboclos eram mais chiques. Às vezes, chiques e emporcalhados. Mas chiques.

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