Nos braços da escassez de sonhos, jaz a poesia!
OBITUÁRIO DOS SONHOS.
Alguém, um quase ninguém, resolve postar os óbitos diários no grupo das mídias sociais da cidade. Mas é displicente. O nome do finado, a idade e algum detalhe do velório que não haverá. Claro, tem exceção. Quando é um figurão do arrabalde, aí vem uns detalhes da vida do sujeito. Uns engrandecimentos.
Essas notícias e a curiosidade sobre cada um dos quase anônimos, levou minha cachola a rechear-se de uns pensamentos.
Será que alguém é mais importante pelo que fez ou pelos seus sonhos? Alguém que sonhou muito, embora não tenha sido um grande personagem, merece destaque. Aí já quero sugerir logo, vamos acrescentar à notícia do óbito, qual foi o grande sonho do finado, realizado ou que ficou a realizar. Talvez algum valente, ou um simples órfão de sonhos, adote esse objetivo; abrace a loucura do que partiu. Pois muitas vezes os sonhos são só devaneios tolos, e por isso mesmo, dignos de toda a reverência.
Tivéssemos mais sonhadores teríamos mais realizações, pois tudo nasce do sonho. Depois amadurece e torna-se realidade, ou não.
É essa escassez de sonhos, esse culto ao que foi feito, que nos põe perder toda a poesia.
Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – UEL FM.