BIOÉTICA

NAS CALÇAS DE RISCA DE GIZ.

Sobre uma parede enfeitada pelos cadáveres das caixas de remédios.

QUE EU ME DEIXE MORRER EM PAZ.

Eu só queria morrer em Paz. Minhas questões pendentes: a morte que as carregue.

LUGARES DE CAMPOS TRISTES.

Entendo que não deseja minhas moedas. O que quer é um cadinho de mim.

PERSONAGEM DE FICÇÃO.

Pessoas são ambíguas. Possuem qualidades e defeitos. Porém um ser humano não cabe na tela de um computador ou celular.

UM MUNDO EM PANDEMIA.

Viver nos dias atuais é isto: morrer de alguma ou de todas as crises. Junto morre a cultura, a civilização, a arte.

AS SABEDORIAS DO BEM-TE-VI.

Na primavera de fumaça no céu e terra enrugada, o bem-te-vi grita alto: bem-que-te-avisei, bem-que-te-avisei.

COSTUME DE MÃE.

Eu poderia colocar-me a lavar o túmulo. Mas seria como banhar os ossos dos parentes. Falta estômago para isso no meu abdômen.

QUEM SOBREVIVER, VERÁ.

A história mostra que nos momentos de fundo de poço, a engenhosidade humana encontra novas soluções e dá a volta por cima.

FECHADO PARA BALANÇO.

Você sabe como se pode auditar uma vida? Um viver, por vezes até correto, mas no geral eivado de tortos e falhas.

CLAUSURA VOLUNTÁRIA.

Apaixonado pelas pessoas, o vento grita pelas frestas, a nos lembrar que a felicidade está lá fora e não dentro das paredes da fluoxetina.

O ESPELHO OBTUSO.

É o medo de olhar no espelho e ver toda a culpa que sentimos por ter negligenciado a pessoa que amamos, mas que já não está conosco.

A FESTA DOS PORCOS.

A simplicidade possibilitava uma infância interessante e acontecimentos inesquecíveis. A pasteurização de hoje inviabiliza o inusitado.

DISSOLVIDO EM ÁLCOOL.

Antes de engolir o comprimido que lhe ofereço ela jura que me ama e que nunca mais irá beber. Eu acredito piamente nas suas juras . . . de novo.

O PESO DO CORPO.

O viver é uma labuta contínua com o próprio corpo, até nos separamos dele em definitivo.

O ASSOVIO É A MÚSICA DO VENTO.

Acho que Deus criou o mundo para ter vento e o assovio ir mais longe.

UMA DÚZIA DE DEZ.

Vou comprando quilos de 700 gramas, dúzias de dez, litros de 750 ml. A matemática resolve a minha vergonha da pobreza.